Um dos dispositivos constitucionais que regem o nosso País coloca a proteção à saúde como uma condição básica da existência, chamada dignidade da pessoa humana. É dever do Estado promover a saúde, como também humanizar o atendimento a população.
E humanização tem sido uma das bandeiras dos gestores públicos de saúde. Porém, não há como vislumbrar a humanização da saúde com paciente tendo que madrugar em filas para conseguir atendimento, com pessoas chegando às unidades de saúde pela manhã e só serem atendidas altas horas da noite, com pacientes que têm consultas com especialistas marcadas há meses voltando para casa sem serem atendidos porque simplesmente na data agendada o profissional não apareceu, com gente chegando ao hospital de manhã cedo com necessidade de transferência para Fortaleza sendo possível apenas ao meio dia.
A saúde foi dividida em duas em Quixeramobim. Há a Secretaria de Saúde, propriamente dita, e a Secretaria de Gestão Hospitalar. Note-se que há apenas dois hospitais no município, o Hospital Regional e o Hospital Infantil, mas mesmo assim criou-se uma secretaria de gestão hospitalar. Duas secretarias, duas estruturas. Com certeza o problema na saúde não é a falta de recursos, pois para atender a interesses políticos e apaziguar as disputas internas, a atual gestão permitiu a criação de mais uma secretaria para tratar de assuntos semelhantes, quando na realidade uma boa direção geral no hospital, bem articulada com a secretaria de saúde seria o suficiente. Até mesmo porque os casos mais graves não são tratados no município, mas encaminhados para Fortaleza.
Denúncias dão conta de que até piada os pacientes têm ouvido de médicos e enfermeiros, como é o caso de uma senhora, do distrito de Manituba, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC), que teve seus movimentos limitados pela doença e que foi alvo da ironia e da grosseria da médica do Programa Saúde da Família, que afirmou insatisfeita, por ter que se deslocar até a residência da idosa para atendê-la: “se ela pode de ir à missa, ela pode ir ao Posto de Saúde”. Desrespeito. Despreparo. Espera-se mais de uma pessoa destacada para cuidar da saúde das pessoas. Para tratar de gente tem que se gostar de gente, tem que se entender que quando se busca um atendimento, geralmente é porque já se está fragilizado pelos sintomas da doença, portanto torna-se ainda mais penoso para o paciente agüentar um mau atendimento.
Cabe ressaltar ainda, que um dos diferenciais do programa Saúde da Família, é o acompanhamento contínuo dos pacientes em suas localidades, seja na unidade de saúde ou mesmo nos domicílios dos pacientes, descentralizando o atendimento e levando a saúde para mais perto das pessoas. Por isso é chamado de “Programa Saúde da Família”. Esse programa tem uma dinâmica de assistência às pessoas, onde o profissional deve conhecer o paciente e o seu tratamento, acompanhando seu processo de reabilitação de perto. O profissional do PSF não é aquele “Doutor” que se coloca num pedestal, mas aquele que vai até a residência das pessoas, que cuida delas, que está ao alcance da população.
A saúde em nosso município requer uma atenção especial, um maior zelo por parte da gestão pública. Denúncias nos chegam diariamente, apesar de muita gente ainda temer represálias, temer perseguições. Nós, profissionais do rádio, lidamos com esse temor popular todo dia, somos uma espécie de confidente das vítimas que sofrem desde um mau atendimento ao erro médico. Vemos a angústia de quem não tem a quem recorrer, de pessoas tão humildes e desassistidas, que não sabem que têm o direito de exigir um atendimento de qualidade, que são tão ou mais cidadãs que aquelas que detêm o poder, seja ele político ou econômico.
Para se ter idéia, fui pessoalmente à residência de Dona I. M.S, mãe de F. L. S. S, vítima de erro médico. Por temer represálias, a família pediu para não ter seus nomes divulgados. Segundo a mãe, não é a primeira vez que lamentável fato ocorre contra sua família. Ela própria já foi vítima, quando lhe foi diagnosticado pneumonia, sendo que na realidade tinha problemas cardíacos. Acontece que com a criança é mais grave. L, atualmente com cinco anos, foi mutilado, vive até hoje com uma bolsa de colostomia. A mãe lamenta: “Hoje meu filho não estuda nem tem lazer como as outras crianças”. O descaso com a saúde faz vítimas, mutila, mata. E a sensação de impunidade torna as pessoas impotentes, cada vez menos protagonistas de uma cidadania, cujo exercício passa pela concretização de seus direitos básicos.
A nossa gente está padecendo. Há localidades em que a população passa mais de um mês sem atendimento, onde um dentista não põe os pés há mais de um ano, onde o profissional quando vai atender, chega por volta de dez horas da manhã e sai no meio da tarde, sem atender toda a demanda. Isso não é atendimento humanitário, isso é saúde de faz-de-conta, para cumprir agenda.
E tem mais: os postos de saúde que deveriam atender os casos de menor complexidade não estão funcionando devidamente, as pessoas continuam indo ao hospital com uma simples febre, lotando os corredores e leitos que deveriam ser ocupados por pacientes mais graves, em situação de urgência e/ou emergência.
O que está havendo com os nossos gestores? Que insensiblidade tamanha é essa que os cega, que os faz ignorar os problemas que mais afligem a população? Por favor, autoridades competentes, para se administrar bem há que se atentar para o fato de que temos uma boca e dois ouvidos, o que até por uma questão de lógica, nos sugere que temos que falar menos e ouvir mais. Também temos dois braços. Escutem o clamor da população e arregacem as mangas. Saiam da postura de arrogância de desqualificar as críticas, utilizem-nas para corrigir os erros, para aprimorar sua atuação. Afinal, o que falta no nosso município para sanar problemas pontuais? Mais união e trabalho, com certeza. Mais respeito ao povo, sem dúvida!
SEGUNDA-FEIRA, 26 DE JULHO DE 2010
Sérgio Machado
Radialista
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