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sexta-feira, 2 de março de 2012

Entrevista - Competência do enfermeiro na emergência

A emergência costuma ser um setor que exige dos profissionais que nele atuam, um olhar atento para observar e saber administrar as inúmeras situações apresentadas. A entrevista com a enfermeira Profª Drª Ana Maria Calil Sallum visa mostrar algumas dessas situações, assim como apontar a postura que deve ser adotada pelo enfermeiro que atua em urgência e emergência.

Profª Drª Ana Maria Calil Sallum

Enfermeira. Aprimoramento em Unidade de Terapia Intensiva pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Mestre e Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo - EEUSP. Membro do grupo de pesquisa da EEUSP em estudos de trauma e neurotrauma: pesquisadora no projeto de mortes evitáveis.

Por: Vanessa Navarro

Nursing - Quais são as competências que o profissional de enfermagem deve possuir para ingressar no cuidado em urgência e emergência?
Ana Maria Calil Sallum - Como em qualquer área, a competência do enfermeiro deverá estar alicerçada em SABER (conhecimento científico) + FAZER (capacitação técnica) + VALORES (pessoais e profissionais). A soma desses três elementos gera a competência. Acredita-se que o conhecimento acerca da emergência deve ter início na graduação, pois emergência e urgência são condições clínicas e/ou cirúrgicas as quais poderão ocorrer em qualquer cenário (no intra ou extra hospitalar), desde a pediatria até o centro cirúrgico; e os profissionais de saúde deverão estar preparados para esses atendimentos, não apenas no pronto-socorro. Os atendimentos precisam ser rápidos, e o reconhecimento precoce de sinais clínicos (normalmente) por parte da equipe de enfermagem é fundamental.
As especializações também parecem um caminho interessante para aprofundar temáticas, assim como a realização de cursos específicos na área de trauma intra e pré-hospitalar, cardiologia, pediatria, entre outros, para manter os profissionais atualizados.

Nursing - Quais são os pilares da enfermagem responsáveis pela qualidade de assistência?
Ana Maria Calil Sallum - Entendo como pilar tudo aquilo que dá sustentação a ação. Todo enfermeiro deveria basear as suas ações em quatro pilares: educação, boa gerência, pesquisa e assistência baseada em conhecimentos permanentes. Essas medidas precisam ser tomadas independentemente da área de atuação,

Nursing - Quais são os principais desafios encontrados pelos profissionais de enfermagem que atuam em urgência e emergência?
Ana Maria Calil Sallum - Os principais fatores dificultadores são: a falta de humanização; a comunicação ineficaz; a falta de ética; o desrespeito com a morte e o paciente terminal; a desorganização da unidade; os problemas de relacionamento; o espaço físico precário a negligência e falta de interesse; a automatização; a ausência de triagem; a falta de autonomia da equipe de enfermagem; a ausência de protocolos; a falta de educação permanente; a sobrecarga de trabalho burocrático; e o número insuficiente de funcionários comparado a demanda de pacientes.

Nursing - Como os profissionais de saúde devem atuar para evitar a super-lotação nos departamentos de emergência?
Ana Maria Calil Sallum - Deveria existir por parte de nossa sociedade civil e, sobretudo, um verdadeiro desejo político frente as práticas preventivas de saúde para que os pacientes pudessem de forma segura e satisfatória terem os seus problemas de saúde atendidos adequadamente em unidades básicas e/ou serviços primários de saúde. Isso evitaria que os serviços de emergência e urgência de hospitais terciários ou universitários fossem denunciados com frequência na mídia escrita e falada, devido a super-lotação. Além disso, todo PS deveria contar com vagas para assegurar a continuidade de tratamento de pacientes críticos. O enfoque educativo do enfermeiro e demais profissionais de saúde também deve ser trabalhado de forma mais efetiva para que as demandas de PS diminuam. Um exemplo clássico disso são as doenças crônicas, como diabetes mellitus e hipertensão arterial, que dão entrada nos serviços de emergência na forma de crises hipertensivas, acidentes vasculares cerebrais, IAM, cetoacidose diabética, entre outras.

Nursing - Com a implantação dos serviços de pré-hospitalar, o que mudou nos departamentos emergências dos hospitais?
Ana Maria Calil Sallum - Os serviços de pré-hospitalar trouxeram inúmeros benefícios para os serviços de emergência em relação a rapidez dos atendimentos e instalação de medidas de tratamento iniciais. Contam com equipes altamente qualificadas, e que lutam diariamente para salvar vidas em meio ao caos de uma grande metrópole como São Paulo e outras capitais. Merecem grande reconhecimento e apoio dos serviços de saúde.

Nursing - Como é a relação e a atuação da equipe de atendimento pré-hospitlar e intra-hospitalar?
Ana Maria Calil Sallum - A minha experiência profissional com esses serviços limita-se a um hospital geral governamental de grande porte no município de São Paulo. Foi uma experiência muito boa, pautada em respeito profissional e na cooperação mútuas - tanto pela via terrestre como pela aéreo (águia). Do ponto de vista pessoal, já tive amigos e parentes próximos atendidos pelos serviços de resgate com competência, ética e humanização.

Nursing - Qual é a responsabilidade do enfermeiro pela assistência prestada às vítimas no pré-hospitalar?
Ana Maria Calil Sallum - O enfermeiro (em qualquer serviço) é responsável, privativamente, pelo atendimento direto às vítimas críticas e graves. Além disso, cabe à equipe de enfermagem, a organização do material, preparo do material, reposição dos mesmos após cada atendimento, atendimento direto às vítimas, treinamentos, educação permanente, desenvolvimento de pesquisa; enfim, atuação nos pilares da assistência, educação, gerenciamento e pesquisa.

Nursing - Os avanços científicos e tecnológicos fazem com que o profissional de enfermagem que atua em pronto-socorro esteja sempre atualizado. Quais são os cursos (reciclagem e capacitação) mais procurados e/ou indicados?
Ana Maria Calil Sallum - Os cursos mais procurados e indicados são: o Advanced Trauma Life Support for Nurses- ATLSn; o Pré - Hospitalar - Advanced Trauma Life Support - PH - ATLS; o Advanced Trauma Life Support – ATLS; e o ATCN. Também são recomendados congressos específicos na área, como o da Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Trauma - SBAIT. Merece destaque, também, os esforços do COBEEN - Colégio Brasileiro de Enfermeiros em Emergência.

Nursing - O enfermeiro que atua no setor de emergência lida todos os dias com a vida e com a morte. Existe algum recurso psicológico disponível ao profissional?
Ana Maria Calil Sallum - Não conheço instituições hospitalares que tenham um serviço especializado e/ou próprio para esse fim. Conviver diariamente com a vida x a morte e situações que geram alto grau de estresse podem sim, com facilidade, desencadear processos depressivos de ansiedade e outros.Seria muito interessante que os gerentes hospitalares tivessem esse “olhar” humanizado para essa questão. Faz parte do nosso trabalho conviver com a morte e aprender a enfrentá-la, mas não está no “script” ser indiferente com os pacientes ou com os familiares das vítimas.

Nursing - Como o enfermeiro que atua em emergência deve atuar para compreender o processo de liderar e desenvolver as habilidades necessárias?
Ana Maria Calil Sallum - O enfermeiro, por mais novo que seja, que inicia a sua atividade profissional em um serviço de emergência precisa assumir a liderança de sua equipe. As pessoas seguem um líder. Um chefe, as pessoas obedecem e, por vezes temem. O caminho para a liderança, sob minha ótica, baseia-se na humildade, na busca constante por competência, confiança e justiça. Um líder é sempre justo! Iniciei as minhas atividades em um serviço de emergência com apenas 22 anos, e tinha um funcionário com 25 anos de atuação nesse serviço (apenas na área de emergência). Liderar alguém com essa trajetória, sendo recém-formada não é uma tarefa fácil, mas o caminho trilhado foi dividir o conhecimento, não ter medo de dizer "não sei" e pedir ajuda sempre que necessário.
Dividir conhecimento é somar, e isso precisa ser feito em qualquer cenário, sobretudo em um ambiente onde o tempo entre a vida e a morte pode ser de poucos segundos. Um aprendizado adquirido nessa área foi o de que estar junto de um novo ser no momento de seu nascimento pode ser uma benção, mas estar de mãos dadas com alguém no momento de sua morte é um privilégio!

e-mail: easallum.fnr@terra.com.br

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Por Marcos Silva