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sexta-feira, 2 de março de 2012

Vacinação do adulto: simplesmente essencial

Quando se fala em vacinação, habitualmente se pensa na população infantil, porque culturalmente “vacinação é coisa de criança”. Portanto, orientar vacinação para adultos em geral não faz parte da abordagem rotineira da assistência à saúde nessa faixa etária. A maioria dos adultos não tem registro de vacinas em caderneta de vacinação. Isso acontece com as mulheres e também com os homens.

Existem muitas justificativas para se vacinar um adulto, entre elas podemos destacar: algumas vacinas não existiam quando os adultos de hoje eram crianças; alguns adultos não foram vacinados quando crianças; com a idade mais avançada nos tornamos vulneráveis a algumas doenças que podem ser prevenidas por vacinas, como a gripe e a pneumonia; quando a situação epidemiológica de uma doença indica a vacinação; e quando a situação de saúde da pessoa o torna mais vulnerável a doenças imunopreveníveis. Veja, a seguir, o que diz Jacy Andrade, professora associada de infectologia da Faculdade de Medicina da Bahia / Universidade Federal da Bahia (UFBA), membro da diretoria da SBIM e do Comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de infectologia.

Um adulto pode utilizar diferentes vacinas no mesmo dia?

Sim, se houver indicação. O uso simultâneo de várias vacinas no mesmo dia é uma prática rotineira e não faz aumentar os eventos adversos secundários a aplicação dessas múltiplas vacinas.

Quando um adulto tem carteira de vacinação da época que era criança e agora decide se vacinar tem que recomeçar todo o esquema vacinal?

Não. A “bagagem vacinal” do indivíduo sempre é valorizada e aproveitada. Se a pessoa tem documentação sobre esquemas vacinais realizados na infância isso ajuda muito. A orientação é completar os esquemas, avaliar necessidade de reforços, mas não recomeçar esquema de vacinação. O sistema imune do indivíduo guarda informações recebidas previamente e quando novamente estimulado essas informações são recrutadas e entram em ação para defender o indivíduo. Por essa razão sempre se aproveita doses anteriores de vacinas.

Que situações críticas de saúde são importantes para vacinar um adulto?

Existem muitas condições especiais de saúde que necessitam de uma atenção maior com a vacinação. Por exemplo, uma pessoa que seja cardiopata grave precisa ser orientada a se vacinar contra o vírus da gripe e contra o pneumococo, uma bactéria capaz de causar pneumonia. A cardiopatia desse indivíduo pode descompensar seriamente na presença de uma dessas condições - gripe e/ou pneumonia – daí a importância de vacinar nessa condição de saúde. Do mesmo modo, pessoas que têm pneumopatias, doenças metabólicas crônicas como diabetes mellitus, anemia falciforme, portadores de HIV/aids e outras condições de saúde precisam ser rotineiramente orientadas a atualizarem seu esquema de vacinação.

Onde um adulto pode atualizar seu esquema de vacinação?

O governo brasileiro disponibiliza através do SUS vacinas que são importantes para o adulto, como tríplice viral, hepatite B, tétano e febre amarela. Contudo, algumas vacinas no serviço público têm limitação de indicação em função da idade, ou seja, o serviço público não contempla todas as vacinas em qualquer idade e/ou situação de saúde. No caso das pessoas com condições especiais de saúde o governo disponibiliza vacinas no serviço público através dos Centros de Referências para Imunobiológicos Especiais – CRIEs – que existem em todos os estados brasileiros. Para receber essas vacinas é preciso um relatório médico descrevendo a condição especial de saúde e no CRIE o indivíduo passa por uma triagem, sendo que as vacinas são liberadas de acordo com sua patologia. Outras vacinas que também são importantes para os adultos e ainda não estão disponíveis no serviço público como a vacina tríplice acelular do adulto (contra difteria, tétano e coqueluche); são disponibilizadas em clínicas privadas de imunização lembrando que essas clínicas devem funcionar de acordo com normas brasileiras específicas para clínicas de vacinação, que são determinadas pela ANVISA.

A gestante deve tomar alguma vacina?

A gestação é um período muito importante para se dar orientação sobre vacinas. Nessa situação as vacinas têm como objetivo proteger diretamente a mãe e também o recém-nascido, pois ao nascer o sistema imune da criança ainda não está preparado para se defender adequadamente. Se a mãe está vacinada, passa anticorpos para o seu concepto e dessa forma, ao nascer, a criança se defende, enquanto vai produzindo sua própria defesa à medida que vai se vacinando. Vacinar a gestante contra gripe, hepatite B e tétano é importante e faz parte do calendário vacinal oferecido no serviço público através do SUS.

Contudo, hoje uma grande preocupação é a coqueluche. Nossos adultos em geral estão desprotegidos contra coqueluche porque se vacinaram apenas quando crianças e como adultos desprotegidos funcionam como importante fonte de transmissão da bactéria que causa coqueluche para os recém-nascidos e crianças menores de 1 ano de idade. A vacina contra coqueluche para adulto, comercializada na forma de tríplice acelular (difteria, tétano e coqueluche), já foi liberada nos Estados Unidos para ser utilizada na gestante. No Brasil pode ser utilizada no pós-parto e antes da gravidez, não sendo ainda autorizada pela Anvisa sua utilização durante a gestação. Há outras vacinas inativadas que podem ser utilizadas na gestação na dependência da situação de risco da gestante.

Existem situações onde a ocupação do indivíduo leva a indicações especiais de vacinas?

Há algumas situações em que a exposição ocupacional é importante, por exemplo, o profissional de saúde (PS). Todo PS deve ter seu esquema atualizado, pois corre risco de exposição quando exerce a função assistencial e também porque ele pode colocar em risco o paciente que atende ao transmitir alguma doença para a qual não esteja imune. Chamo atenção que todo PS tem direito a atualizar seu esquema vacinal nos CRIEs com vacinas contra varicela, hepatite B, tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), tétano, gripe e outras na dependência da sua situação vacinal e de saúde. Pessoas que trabalham, por exemplo, em zoológicos e em captura de animais devem ser vacinadas contra raiva.

A vacina contra HPV é indicada apenas para mulheres?

O HPV (papilomavirus) é uma infecção sexualmente transmissível e a maioria das pessoas infectadas não desenvolvem sintomas. Hoje são disponíveis duas vacinas contra o HPV. Uma delas tem como foco principal a prevenção de câncer genital, principalmente câncer de colo do útero. Essa vacina é licenciada para ser utilizada em mulheres. É a vacina conhecida como HPV bivalente. Existe outra vacina, conhecida como HPV quadrivalente, que além de prevenir câncer genital, principalmente de colo do útero, também protege contra verruga genital, sendo indicada e licenciada tanto para mulheres quanto para homens. Ambas as vacinas são excelentes na prevenção do câncer cervical, mas não substituem a triagem que deve ser realizada anualmente em mulheres com vida sexual ativa, através do teste de Papanicolau, para detecção precoce de lesões pré-cancerosas.

Em relação à vacina contra a bactéria meningococo ela deve ser utilizada pelos adultos?

Adultos que vivem em áreas de risco, devem se vacinar. Na dependência da área, podemos ter predomínio de diferentes sorogrupos de meningococo. Por essa razão, a pessoa deve ser orientada adequadamente. Hoje existem duas vacinas conjugadas contra meningococo disponíveis. Uma monovalente, contra meningococo C e outra quadrivalente contra os sorogrupos A, C, W135 e Y. No serviço público existe apenas a monovalente. Em breve teremos outra vacina específica para o sorogrupo B.

Existe alguma forma de se melhorar o panorama de vacinação do adulto?

Sim, tornando rotineira a abordagem sobre vacinação em todas as situações de assistência à saúde. Primeiro avaliar a condição vacinal do adulto levando em consideração se esse adulto é hígido ou é uma pessoa portadora de alguma condição de saúde que cause imunodepressão (doenças ou uso de medicações). Avaliar risco profissional de exposição ou risco temporário em função de alguma viagem (vacinação do viajante), dessa forma priorizando vacinas de acordo com o risco de exposição atual. Lembrar que muitas vezes é preciso flexibilizar o esquema vacinal em função da aceitação, sobretudo quando lidamos com adolescentes. Essa abordagem deve ser feita rotineiramente, no caso dos médicos, nos acompanhamentos ambulatoriais de diferentes especialidades, lembrando que o trabalho interdisciplinar é fundamental para melhor assegurar uma imunização adequada. A imunização também necessita ser mais divulgada no meio acadêmico, para que os estudantes da área de saúde possam se familiarizar com a diversidade de indicações das vacinas e dessa forma beneficiar a população com medidas preventivas que sabidamente trazem resultados positivos. Vacinação não é privilégio da criança, ela passeia do recém-nascido ao idoso.

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Por Marcos Silva