Praticamente todas as pessoas já receberam, pelo menos uma vez na vida, algum tipo de apelido, esses podem ter origem na família, no trabalho, porém o lugar onde mais acontece é na escola. Mas se observarmos muito bem existe também na área da saúde, principalmente com os profissionais de enfermagem.
Apesar de aparentemente não demonstrar grandes problemas apresentam diversos inconvenientes ou até incidentes maiores. Geralmente os apelidos surgem nos primeiros contatos, especialmente quando entra novo um paciente é admitido no hospital ou quando uma mãe leva o seu filho para se vacinar oriundo de uma comunidade, outra cidade, estado que apresentam características distintas como o modo de falar. Muitas vezes esse fato deve ser encarado como uma forma de agressão e a instituição de saúde não deve permitir, essa questão já levanta preocupação e serve como base de pesquisas.
Essa prática desenvolvida de forma intencional e repetitiva é denominada de bullying. O melhor é que o exemplo venha dos profissionais, evitando que esses coloquem apelidos entre si, além de não caracterizar determinados departamentos como a sala dos sabichões, dos espertos, inguinorantes, os sanguessugas etc.
Bullying é uma expressão inglesa usada para designar atitudes de violência de caráter físico ou psicológico, de forma intencional e repetitiva, geralmente o ato é executado pelo “valentão, engraçadinho, barraqueira ” ou um grupo que tem como intuito agredir outra pessoa. O termo BULLYING também compreende todas as formas de atitudes repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais pessoas contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (profissionais) e o desequilíbrio de poder (usuários) são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima.
Por não existir uma palavra na língua portuguesa capaz de expressar todas as situações de BULLYING possíveis, o quadro, a seguir, relaciona algumas ações que podem estar presentes:
Colocar apelidos Ofender Zoar Gozar Encarnar Sacanear Humilhar Aterrorizar Dominar | Fazer sofrer Discriminar Excluir Isolar Ignorar Intimidar Perseguir Assediar Amedrontar | Agredir Bater Chutar Empurrar Ferir Roubar Quebrar pertences Tiranizar |
Na sala de vacina os casos mais evidentes acontecem quando uma mãe leva o seu filho para se vacinar e ao se deparar com um vacinador diz logo: quem está na vacina? Dependendo da afinidade com o profissional diz em seguida: Ah é você (...) pensei que fosse a fulana(o), cicrana(o) ela(e) não sabe aplicar, ou, ela(e) é muito abusado, ou no decorrer do atendimento se essa mãe possui origem de estado cujo sotaque é muito marcado, o que gera piadinhas e situações constrangedoras para o vacinador.
Praticamente em todos os casos os autores dos apelidos não sofrem nenhum tipo de punição por parte do agredido. O melhor é que os profissionais, ou a instituição de saúde ministrem rodas de conversas voltadas para essas questões, mostrando aspectos de diversos lugares e promovendo aberturas para que as mães relatem suas respectivas origens. Isso por que as criticas ocorrem somente antes de se conhecer o lugar ou mesmo a cultura.
Se fosse feito uma pesquisa nas instituições de saúde muitos profissionais da rede pública e particular pelo menos 40% já sofreram com o bullying.
Apelidos
Quando pensamos em apelidos, lembramos de alguns bem engraçados. Podemos considerar apelidos como símbolos, já que eles expressam uma síntese de características ou acontecimentos, assim como, normalmente, também nos revelam verdades a respeito de alguém. Há muito tempo esse assunto fez despertar uma necessidade de reflexão. Estou acostumado a diversos apelidos como: na enfermagem “enfermeiro malvado”, “seu bruxo”, “sem dó”, “bicho vei”, “tu sabe vacinar mesmo”, “bicho arrogante”, “vou bater nele, porque ele te fez chorar” e “bicho rui” dentre tantos que ouvimos ou tomamos conhecimento por ai. Independentemente do apelido, a verdade é que todos querem dizer algo a respeito de alguém. Por assim dizer, podemos afirmar que um apelido, como todo símbolo, representa as idéias e filosofias que estão por detrás dele. Partindo deste pressuposto, não seria “estranho” dizer que a única coisa que temos a dizer a respeito de alguém seria algo referente (ou relevante) em relação a sua aparência física? Será que essas pessoas não possuem algum outro ponto marcante em sua vida ou caráter merecedor e digno de ser ressaltado? Não seria grosseiro, e porque que não dizer estúpido, afirmar que meros detalhes físicos de alguém são mais significativos que suas qualidades; sejam elas de caráter ou outras quaisquer? Bom, alguns podem afirmar veementemente que a maioria das pessoas não se importa ou “dão bola” para esses chamamentos carinhosos. Contudo, MERLEAU - PONTY em seu estudo intitulado O VISÍVEL E O INVISÍVEL retrata que muitas situações que não nos agradam ou até mesmo nos ferem consciente ou inconscientemente, podem ser assimiladas, devido ao fato de ocorrer uma acomodação auditiva de tal (de acostumar-se a ouvir). Mediante isto, torna-se lógico e plausível dizer que os detentores de apelidos que elucidam partes de seu corpo acabam por acostumar-se a estes chamamentos e, por conseguinte os aceitam. Porém, cabe ressaltar que o fato de aceitar o apelido não signifique “morrer de amores” por ele. Assim, é necessária uma reflexão sobre o modo ao qual tratamos, ou melhor, chamamos as pessoas com as quais convivemos. Lembre-se que em Antioquia os discípulos foram, pela 1ª vez, chamados de cristãos. Esse apelido foi dado porque aqueles homens buscavam o caráter de Jesus; ou seja, seu padrão, seu molde, sua forma e seu referencial. A Bíblia não menciona casos de pessoas que eram nomeadas segundo fatores físicos como, por exemplo, “Joãozinho, o manco”. Somente percebemos nominações referentes a caráter, como podemos observar em Juízes 11,1: “Era, então, Jefté, o gileadita, homem valente, porém filho de uma prostituta; Gileade gerara a Jefté”. Neste trecho podemos observar que Deus ressalta a coragem, ou melhor, valentia de Jefté e não a condição vergonhosa de sua mãe. Em Daniel 6, 20a observamos o seguinte texto: “Chegando-se ele à cova, chamou por Daniel com voz triste; disse o rei a Daniel: Daniel, servo do Deus vivo!”. Aqui notamos o reconhecimento do rei Dario a característica de homem servente de Daniel; uma característica marcante referente a seu caráter. Encerrando as exemplificações temos o grandioso exemplo encontrado em Isaias 9, 6: “Porque um menino nos nasceu, um filho nos deu; o governo esta sobre seus ombros; e seu nome será:Maravilhoso Conselheiro, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”. Neste episódio podemos contemplar os “futuros apelidos” de Jesus. Apelidos estes que expressam os grandes, marcantes e significativos traços de sua personalidade e caráter. Que a partir de agora possamos refletir e conhecer melhor as pessoas de nosso convívio para que possamos trocar, enquanto há tempo, seus chamamentos carinhosos. Afim de que aquele que atende por “beiço”, possa ser reconhecido como “Fulano, o correto” ou “Siclano, o sábio. |
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