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quarta-feira, 16 de março de 2011

PRIMEIRO PACIENTE HIV-POSITIVO CURADO


Médicos alemães declararam que, pela primeira vez, a cura da infecção por HIV foi alcançada em um paciente.

A pesquisa começou em 2007. Os médicos realizaram um transplante de células-tronco em um homem infectado pelo HIV com leucemia. Agora, eles acreditam que o homem foi curado da infecção pelo HIV, como resultado do tratamento que introduziu as células-tronco resistentes à infecção por HIV.

O paciente era soropositivo e tinha desenvolvido uma leucemia mielóide aguda. Ele já havia recebido um tratamento bem sucedido para a leucemia e, posteriormente, teve uma recaída em 2007, o que exigiu um transplante de células-tronco.

O homem recebeu uma medula óssea de um doador que tinha resistência natural à infecção por HIV; isso acontece devido ao perfil genético de algumas pessoas, nas quais falta o co-receptor CCR5. A variedade mais comum de HIV usa o CCR5 como uma “estação de entrada”, deixando o vírus entrar e infectar as células do paciente. As pessoas que tem essa mutação específica, e não tem o CCR5, são quase completamente protegidas contra a doença.

Essa mutação está presente em menos de 1% da população branca na Europa setentrional e ocidental, e está associada com uma redução do risco de se infectar com o HIV. Ou seja, os médicos escolheram as células-tronco de um indivíduo que tinha um perfil genético incomum: uma mutação herdada de ambos os pais, que resultou em células CD4 – células nas quais faltavam o receptor CCR5.

Antes do transplante de células-tronco, o paciente recebeu tratamento de quimioterapia que destruiu a maioria das células imunológicas, e também recebeu medicamentos imunossupressores para evitar a rejeição das células-tronco. As terapias foram interrompidas no dia do transplante.

O paciente continuou a receber tratamento imunossupressor para prevenir a rejeição por 38 meses. Aos 5, 24 e 29 meses ele recebeu biópsias. Amostras adicionais foram tomadas para checar sinais de infecção por HIV nas células imunes da parede do intestino.

Durante o período de 38 meses de acompanhamento, as células CD4 doadas repovoaram o sistema imune da mucosa do intestino do paciente, a tal ponto que a frequência de células CD4 era quase o dobro do que em pacientes HIV-negativos saudáveis (do grupo de controle). Esse fenômeno também foi observado em um grupo controle de dez indivíduos HIV-negativos que receberam transplantes de células-tronco.

O repovoamento de células CD4 mutantes foi acompanhado pelo desaparecimento das antigas células CD4. Depois de dois anos, o paciente tinha a contagem de células CD4 de um adulto saudável da mesma idade.

Um dos desafios para qualquer cura da infecção pelo HIV são as células do sistema imunológico, que duram muito, e precisam ser removidas antes que um paciente possa ser curado. No caso do paciente de Berlim, a quimioterapia pareceu ter destruído as células de vida mais longa, e que tinham sido substituídas por células do doador.

O paciente não retomou a terapia anti-retroviral após o transplante. No entanto, o HIV permaneceu indetectável pelos dois testes de carga viral (RNA) e os testes de DNA viral dentro das células. Os níveis de anticorpos contra o HIV diminuíram a tal ponto que o paciente não tinha anticorpos reativos ao núcleo do HIV, apenas níveis muito baixos de anticorpos contra proteínas do HIV.

Dezessete meses após o transplante, o paciente desenvolveu uma condição neurológica, o que exigiu uma biópsia do cérebro. O HIV também foi indetectável no cérebro.

Uma indicação adicional de que o HIV não está presente no paciente reside no fato de que as células CD4 do paciente são vulneráveis à infecção com o vírus que atinge o receptor CXCR4 (a única forma que os pacientes com mutação onde está ausente o CCR5 podem pegar). Se algum vírus com esta preferência ainda estivesse presente, infectaria rapidamente a grande população de células CD4.

O paciente, além do HIV, teve um tratamento para a leucemia cansativo e demorado, com recaídas. Seu problema neurológico o levou à cegueira temporária e problemas de memória. Ele ainda está em fase de fisioterapia para restaurar a sua coordenação, bem como terapia fonoaudiológica.

Se a cura realmente foi alcançada neste paciente, aponta o caminho para as tentativas de desenvolver uma cura para a infecção por HIV através de células-tronco geneticamente modificadas.

Segundo os pesquisadores, as conclusões apontam para a importância de suprimir a produção de células CCR5, quer através de transplantes ou terapia gênica. Eles discutem como poderiam coordenar os esforços para identificar doadores CCR5-delta32 homozigotos, e ampliar a oferta de células-tronco desses doadores.

Por exemplo, através de amostra de células do sangue do cordão umbilical de bebês nascidos de mães que são homozigotos para CCR5-delta32, a fim de, eventualmente, facilitar a terapia com células-tronco.

Porém, as técnicas de terapia genética, que podem transformar as células-tronco e todos os seus descendentes em células resistentes à entrada do HIV, pode ser uma opção mais prática do que procurar doadores.

Muitos grupos de pesquisa receberam financiamento para explorar as técnicas de engenharia e de introdução de células-tronco sem CCR5. Se essas abordagens tiverem sucesso, serão terapias caras, por isso nos primeiros estágios é provável que a cura seja reservada para pessoas sem opções de tratamento, ou com câncer de medula óssea, ou que exijam transferência de células-tronco.

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Por Marcos Silva